domingo

AS PALAVRAS FICAM DOENTES (I): RAZÃO

Palavras também adoecem e, visto o fato de que construímos nossa maneira de ser grandemente segundo as palavras que empregamos, o emprego dessas palavras adoecidas – verdadeiros “logovírus” – fazem-nos adoecer também.  Vejamos um exemplo:
As palavras ‘razão’, ‘razón’, ‘ragione’, ‘raison’, ‘reason’ provêm de ‘ratio’, tradução latina do grego ‘logos’, que, em seu âmago, contém o sentido de “proporção”.  O fato de empregarmos a expressão “fulano está sendo irracional” quando pretendemos dizer que ele está reagindo desproporcionalmente a alguma coisa é exemplo disso.
A perversão do sentido original da palavra ‘logos’ começou já dentro do próprio idioma grego, adentrando o latim e logo ocupando, nos idiomas vivos supracitados, o lugar que, de direito, pertence semanticamente à palavra ‘intelecto’.  Isso dá origem a uma série de mal-entendidos no pensamento ocidental – o oriental não conheço – todos centrados em torno da falsa oposição entre razão e emoção.
O caráter obsessivo-compulsivo não é, como afirmam numerosos textos psicológicos e psiquiátricos, “excessivamente racional”, ele é “excessivamente intelectualizado”;  o caráter histérico, não é “pouco racional”, é “pouco intelectualizado”.  O primeiro pode agir de maneira absolutamente antipragmática, fundamentando seu comportamento em piruetas do intelecto;  o segundo pode agir de maneira perfeitamente pragmática, sem ter acesso às considerações intelectuais que fundamentam suas ações.  Nenhum deles, contudo, é racional, sendo incapazes de dar equânime valor a emoção e intelecto.  Assim, para evitar a 'colagem' de intelecto com racionalidade, é necessário manter viva a seguinte classificação, incluindo agora dois outros elementos que, para nossos fins imediatos, deixamos inicialmente de fora, a "volição" (sob a forma de "desejo" ou de "vontade") e "ação":

1) intelecto:

         a) racional; ou
         b) IRRACIONAL;


2) emoção (empregada lato sensu, de forma a incluir "afeto" e "sentimento"):

         a) racional; ou

         b) IRRACIONAL;

3) volição: 


         a) racional; ou
         b) IRRACIONAL.

        

4) ação:


         a) racional; ou

         b) IRRACIONAL;



 SER ‘RACIONAL’, EM SEU SENTIDO MAIS AMPLO, É INTEGRAR DE FORMA COERENTE ESSES QUATRO FUNDAMENTAIS ELEMENTOS DO ACONTECER HUMANO.
Rio, 11/12/2011

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