Quanto às relações entre "conflito" e "trauma" na obra freudiana, vale apontar que:
1) O conceito de "trauma" é complexo. Inclui:
a) Evento traumático: qualquer fato que está na origem do trauma no sentido 3, abaixo;b) Momento traumático: o momento em que a memória de um evento traumático se torna "hiperestésica" (ver abaixo), devido a: b1) "Ressignificação", como quando, por exemplo, uma ocorrência anteriormente considerada ingênua, adquire uma conotação pecaminosa; e/ou b2) "Somação", quando um evento em si pouco perturbador é repetido 'ad nauseam', adquirindo excesso de carga;c) Trauma propriamente dito: a "memória hiperestésica" (prefiro dizer "memória hipertônica), ou seja, uma memória [adquirida pela ação de (b) sobre (a)] que, ativada, provoca uma descarga energética acima daquela que um determinado aparelho psíquico consegue administrar de maneiro funcional, dando origem ao sintoma;
2) É falsa a idéia de que existe uma teoria freudiana da neurose assentada sobre o conceito de trauma e outra, incompatível com aquela, fundada sobre a de defesa (recalque, recusa etc.). Na verdade, a presença da defesa é a principal responsável pela criação e/ou manutenção das "memórias hipertônicas", que, como vimos, constituem a essência do trauma, recurso conceitual manejado por Freud até o fim de sua obra.
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