Para a compreensão do conceito, cabe arrolar as seguintes definições:
PULSÃO - forma de satisfazer a necessidade cujo "modus operandi" é historicamente - mais do que geneticamente - formatado;
DESEJO - componente psicológico da pulsão cujo objetivo é a obtenção de "identidade perceptual" (Freud), seja uma coincidência entre "percepção" e "memória";
PULSÃO DE PALAVRA - pulsão associada à necessidade fisiológica de respirar;
DESEJO DE PALAVRA - "Desejo de Palavra, portanto, é um desejo de “co-ciência” (que, quando introjetada, se transforma em "co(ns)ciência"): um desejo de compartilhar a ciência que se tem de alguma coisa." ("Nova Conversa", p. 66) ... "Satisfazer o Desejo de Palavra não é só enviar uma mensagem verbalmente formulada, mas, após havê-lo feito, reconhecer indicadores – os Sinais de Acolhimento (SAs) – de que essa mensagem foi, de fato, acatada." (id., ibid.)
PRAZER DE PALAVRA - "Digamos, por exemplo, que dois pacientes, pela primeira vez, estejam sendo capazes de formular verbalmente a maneira como cada um vê sua própria capacidade profissional. Um, pela primeira vez, expressa verbalmente que, no fim das contas, se está percebendo muito mais capaz do que pensava ser, o que, naturalmente, lhe dá prazer; outro, por vez também primeira, nos comunica, bem ao contrário, que se está reconhecendo muito menos capaz do que anteriormente se acreditara, o que, naturalmente, lhe é desprazeroso. Mas, por haverem conseguido colocar em palavras algo anteriormente recalcado, passam ambos a respirar melhor, o que os leva a experimentar, independentemente do conteúdo imediatamente prazeroso ou desprazeroso de seu insight, o tipo de sensação costumeiramente associada a palavras como alívio, calma, serenidade e paz. A esse tipo de sensação, chamarei, doravante, de “metaprazer”, porque ele é uma espécie de pano-de-fundo (meta, em grego, indica “para além de”) contra o qual experimentamos os demais prazeres e desprazeres provocados por nossa relação com o mundo." (id., p.75)
METAMBIENTE - "Tendo criado o neologismo “metaprazer”, forjei, por analogia, vários outros – tais como “metanecessidade”, “metadesejo”, “metambiente” etc. – todos relativos à Pulsão de Palavra, também ela por vezes nomeada como “metapulsão”. Esses neologismos explicam-se por si mesmos, a não ser, talvez, um – metambiente – que se refere ao conjunto dos fatores de nosso entorno especificamente relevantes para a satisfação ou bloqueio de nossos Desejos de Palavra. Nesses termos, se uma criança quer brincar com um frágil objeto de cristal e a contemos, não permitimos que ela o faça, essa proibição é uma característica de seu ambiente, característica que, certamente, irá frustrá-la; se a recalcamos, não permitimos que ela expresse verbalmente o desagrado que lhe provoca tal contenção, essa proibição é uma característica de seu metambiente, proibição que, suficientemente repetida, irá traumatizá-la, deixando-a neurótica. Melhorar a qualidade de nossos diálogos, promovendo, dessa forma, a prevenção e a cura da neurose, seria, segundo esse léxico, um projeto metambiental." (id., p. 81)
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