segunda-feira

NEUROCIÊNCIA E PSICANÁLISE

Recebi imeil onde é sustentado que "cada descoberta da neurociência refuta a Psicanálise”. Não pude evitar a conclusão de que o autor da mensagem é pouco ou mal informado. Uma visão atualizada da matéria pode ser encontrada no artigo de Victor Manoel Andrade “A ação terapêutica da Psicanálise e a neurociência”[1], , na qual o o médico-psicanalista arrola dados da Neuropsicologia que apontam para que, se levada avante de forma adequada, uma relação psicanalítica provoca (a) o aumento da liberação endógena de benzodiazepina no núcleo amigdalóide do tronco cerebral (o que implica redução da ansiedade) e (b) a “produção de dopamina em neurônios do mesencéfalo, estrutura tronco-encefálica ligada às emoções, cujos axônios liberam aquele neurotransmissor no córtex pré-frontal”, provocando, “a multiplicação de circuitos neurais implicados na cognição, de onde retorna ao mesencéfalo, agora com a faculdade de regular emoções dali provenientes”. Acrescente-se que Kandel e Hawkins, em seu artigo “The biological basis of learning and individuality”, citado por Andrade, afirmam que estimulações adequadas – supostamente obtidas em relações interpessoais, fora ou dentro de uma relação terapêutica – podem reconstituir tecido cerebral lesado! A parte o artigo que acabei de citar, vale saber que uma pesquisa feita em Harvard – lamento não ter, no momento, possibilidade de detalhar a fonte – detectou que a reação endorfínica (redutora de estresse) se tornava mais pronta e eficaz ao fim de uma psicoterapia (psicanalítica ou não) bem sucedida. Frente a dados como esses, fica difícil entender de onde saíram as informações que levaram nosso missivista a acreditar que os dados da Neurociência refutam a Psicanálise.
[1] Andrade, Victor Manuel. A ação terapêutica da Psicanálise e a Neurociência, in: Arquivos Brasileiros de Psiquiatria, Neurologia e Medicina Legal, vol. 98, n. 3, out./nov./dez 2006.

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