A partir de minha docta ignorantia sobre a matéria - não é área preferencial de meus estudos - tendo a concluir que o instrumento conceitual básico para se entender o autismo é o conceito de imprinting: um processo de exacerbação da atenção que faz as informações sobre as quais tal atenção se volta privilegiarem-nas relativamente a quaisquer outras.
O imprinting ocorre:
(1) durante o “período crítico” de sensibilidade neural, especialmente intensa durante os quatro primeiro minutos imediatamente após o nascimento de um animal, humano ou não. É por isso que uma zebra, ao parir, o faz no limite externo do rebanho, dispondo-se de forma que seu recém-nato SÓ VEJA SUAS LISTAS, não a das demais zebras. Dali para frente, esse padrão ficará marcado de tal forma no psiquismo de seu filhote que ele será capaz de, ao longe, reconhecer imediatamente o padrão de listagem da mãe no meio da infernal barafunda das demais listas do rebanho;
(2) durante estados hipnóticos. É por isso que, se, ao encostar o dedo no braço de um hipnotizado, o hipnotizador diz que o que está encostando nele é a ponta de um cigarro acesso, pode, no lugar do toque, NASCER UMA BOLHA, reação à suposta queimadura;
(3) durante o estado de apaixonamento. Se A, feio como a peste, está apaixonado por B e B lhe diz que ele é lindo, nem o corredor de espelhos de Versailles será capaz de impedi-lo de sentir-se assim;
(4) em rituais coletivos de tipo catártico. É isso que permite a "cura", via sugestão, durante esses rituais - via de regra, de cunho religioso - de uma imensa variedade de sintomas de origem psicológica;
(5) no autismo, de variados graus. Não creio, como você pergunta, que, no autismo, o sujeito "acesse áreas do cérebro que nós, mortais comuns, não conseguimos acessar", mas sim, que ele se volte CRONICAMENTE sobre uma delas com uma ATENÇÃO TÃO INTENSA que pode, no que a ela diz respeito, perceber detalhes e estabelecer relações que o nível normal de atenção não permite ('imprinting') . Mas como, ao que tudo indica, o total da atenção de que é capaz um cérebro mantém-se o mesmo, se, por exemplo, noventa por cento dessa atenção total se concentra numa área, sobram apenas dez por cento para as áreas demais, o que dá origem, em suas versões mais benignas, aos idiots savants – dos quais me sinto representante (outro dia, pinguei adoçante no ouvido) - e, nas mais malignas, ao autismo.
Isso, naturalmente, não passa de uma hipótese, mas, vinda de um 'idiot savant', quem sabe...?
Um comentário:
Faz sentido... agora, adoçante no ouvido? Essa é inédita! rs
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