segunda-feira

LÉSBICAS

Perguntaram-me, por imeil: “Ôi, o que voce poderia falar sobre lesbicas?”
Respondi: “Que podem sê-lo por que estruturalmente o são (e essas ninguém deve tentar mudar) e outras porque, embora estruturalmente não o sejam, sofreram pressões (normalmente passadas) que, conjunturalmente, as levaram a sê-lo (as quais merecem ajuda psicoterápica, caso a procurem). Aliás, o mesmo pode dizer-se dos homosexuais masculinos e também – sem nenhuma dúvida – de todos os heterossexuais que, muitas vezes, só o são pela quantidade de pressão socio-cultural que sobre eles é exercida. Acrescente-se que, para se sabermos se, em determinado caso, a heterossexualidade ou a homossexualidade é estrutural ou conjuntural, não cabe a mera aplicação de suposições a priori, mas a cuidadosa avaliação, por profissional competente e não preconceituoso, da pessoa em que uma ou outra dessas variações da sexualidade aparece.”

Aparentemente, não fui suficientemente claro em minha resposta e recebi, sempre por imeil, outras indagações, quais sejam:

“O que é ser lesbica estruturalmente e conjunturalmente? E as conjunturalmente deveriam ser mudadas?”

Minha resposta:

“Vou fazer uma analogia. Uma pessoa pode ter uma constituição (geralmente devida, em sua maior parte, a seu patrimônio genético) que lhe proporciona estruturalmente um alto nível de imunidade contra infecções. Se, entretanto, essa pessoa, pelos azares da sorte, se vê confinada a circunstâncias – por exemplo, um campo de concentração – em que é sub-alimentada, ela pode ser levada a um nível de anemia que baixa conjunturalmente seu nível de imunidade estruturalmente superior. O mesmo ocorre com qualquer tipo de preferência sexual: se essa preferência tem suas raízes na constituição do sujeito, ela é estrutural e não vejo razão para que se tente modificá-la; se ela tem origem em circunstâncias (passadas ou presentes) que desviaram o sujeito de sua predisposição constitucional, ela é conjuntural e pode ser alterada, embora a decisão de fazê-lo, a meu ver, não deva partir de outrem, mas, sim, desse próprio sujeito.
P.S.: Por favor, não hesite em solicitar maiores esclarecimentos. Terei o maior prazer em respondê-los, inclusive por ser uma questão que interessa a muitos e cuja abordagem é viciada por uma enormidade de preconceitos. Respondendo satisfatoriamente a você – e colocando as respostas em meu saite – certamente estarei servindo a muitas outras pessoas que se debatem com esse tipo de questionamento.”

Seguiram-se outras perguntas:

“E se a pessoa é lésbica por circunstância, ela percebe isso?
Que tem de mudar.
Como dizem que se colocar um sapo numa agua fria e for esquentando, ele não percebe, ou vai se acostumando. E acaba morrendo queimado.
Se for por circunstância, a própria pessoa consegue perceber isto?
Como pode ocorrer?”

Minha resposta:

“Do ponto de vista prático, é mais importante se ela está sentindo-se confortável ou desconfortavel com sua escolha sexual do que se essa escolha é estrutural ou conjuntural. Se ela está confortável, não consigo ver razão para que se mexa nisso; se está desconfortável, deve procurar um psicoterapeuta para ajudá-la com esse desconforto, e, só aí – supondo-se estarem presentes as desejáveis competência e neutralidade do terapeuta – ir-se-á descobrir se tal escolha é (1) estrutural, caso em que o terapeuta irá ajudá-la a lidar com os incômodos que trazem para paciente sua opção sexual, sem tentar alterá-la; ou se é (2) conjuntural, o que, durante um processo psicoterápico bem sucedido, irá alterar tal opção, substituindo-a pela que se adeqúa à estrutura do sujeito.”

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