Ao lado de uma infinitude de pecadilhos, a tradução para o português das obras do Freud pela Imago (ESB), perpetra, vez ou outra, alguns crimes hediondos. Em "O Insconsciente" (1915), por exemplo, vemos Freud, na ESB, quando fala da diferença entre uma apresentação consciente e uma inconsciente, afirmar que "As duas SÃO ... registros diferentes do mesmo conteúdo em diferentes localidades psíquicas etc." (vol. X, p. 230). No alemão, encontramos que "As duas NÃO SÃO ("die beiden SIND NICHT") etc." (GW, X, p. 300); na Carta 84, de sua correspondência com Fliess, onde, na ESB está "solução ... METAFÍSICA" (vol. I, p. 369), no original está "solução ... METAPSICOLÓGICA" (SE, vol. I, p. 274) e assim por diante (no CD das obras completas publicado por ela, o primeiro erro foi corrigido, o segundo, não).
Mas esta minha nota tem endereço certo. Quando sustentei, na comunidade PNL, que a etiologia VEGETATIVA do Transtorno de Angústia, defendida por Freud em 1895, estava sendo injustamente abandonada, Gílson Costa, um de seus membros, sugeriu-me consultar - boazinha! - o texto freudiano "Inibições, Sintoma e Angústia", de 1926, onde seu autor teria supostamente abdicado da posição que sustentara trinta anos antes. Vê-se que Gílson é leitor da ESB. Onde, em alemão, lê-se Freud afirmando, sobre tal posição "Vemos, portanto, que não é o caso de DESVALORIZARMOS ("ENTWERTEN") nossos anteriores achados (GW, XIV, p. 172), vê-se dizer a Imago: “Vemos, então, que não se trata tanto de REMONTARMOS aos nossos primeiros achados...” (ESB, XX, p. 165), EXATAMENTE O OPOSTO do que se vê no original, mostrando que os "traditori" (caso Gílson não saiba, "traidores", em italiano), não só NÃO CONSULTAM O ALEMÃO, como dizem fazer, como não sabem sequer traduzir corretamente o inglês ("take back") que consultam. Claro que não podemos esperar que Gílson vá aprender alemão para dar fundamentos mais sólidos a sua compreensão do o que pensa Freud, mas seria produtivo que começasse a desconfiar do que pensa que sabe.
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