quinta-feira

O MAL ESTAR NA CULTURA

Adoro Freud! Falou coisas tão fundamentais que é o autor que mais merece, quando fala besteira, que se meta o cacete nele. O "Mal Estar na Cultura" é uma porcaria! Esse trabalho é o ápice da trapalhada - em que Freud por vezes incorria - de confundir "contenção" (= impossibilidade de fazer) com "recalque" (= impossibilidade de representar em nível verbal). Veicula subrepticiamente a idéia de que "contenção gera neurose", quando qualquer leitura minimamente decente dos dados produzidos pela clínica psicanalítica prova inelutavelmente que só o recalque é capaz de fazê-lo. Há uma carta de Freud a Fliess que põe de todo a nu esse engano em que o fundador da Psicanálise vez ou outra incorria. Diz ele a seu amigo que, "enquanto não houver métodos contraceptivos eficazes, nossos rapazes vir-se-ão defrontados com a alternativa de (a)contraírem doenças venéreas (leia-se: tendo relações sexuais com prostitutas) ou (b) ficar neuróticos (leia-se: não podendo ter relações sexuais)". Ou seja, estava completamente dominado pelo ledo engano de que NÃO FAZER GERA NEUROSE. Completa essa sandice, dizendo "não deixe essas minhas linhas expostas a ponto de que possa ser lida por sua encantadora esposa" (leia-se: à encantadora esposa de Fliess, não deveria ser permitido o acesso exatamente ao que CURA A NEUROSE, ou seja, A POSSIBILIDADE DE PENSAR). Não é curioso ver Freud na posição de um rematado hipócrita? Não se enganem: gosto dele. Sob fundamentais aspectos, foi de uma coragem rara. Mas não gosto dele a ponto de cegar para quando ele "pisa na bola". Há um "grande Freud" e um "pequeno Freud". A referida carta a Fliess representa, na dimensão privada, o que "O Mal Estar na Civilização" representa na dimensão pública: representa um Freud pequeno, que confunde FAZER com REPRESENTAR EM NÍVEL VERBAL. Um Freud que cumpre combater para que se possa resgatar o Grande Freud.

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