sábado

MEDO À CASTRAÇÃO: E AS GÔNADAS?

Como assinalamos no post "Bate Papo com Freud", o termo "castração", quando devidamente empregado, refere-se à ablação das gônadas — dos testículos ou dos ovários — e, não, do pênis. Empregá-lo, como faz a Psicanálise, como sinônimo de "ablação do pênis" — grosseiro desvio do significado original — exige uma justificativa até hoje não provida, necessária, inclusive, por que desvia nosso olhar de uma questão nada irrelevante, qual seja: existiria, no psiquismo humano, um medo à castração em seu sentido próprio, o de ablação das gônadas? Se a resposta for afirmativa, a mulher, ao possuir ovários, passa a ter o superior direito — até agora só atribuído aos homens — de ter medo à castração e, portanto, o de tentar defender-se disso, não devendo simplesmente render-se, impotente, frente a um fato inelutavelmente consumado. E se tal medo existe — difícil não supô-lo! — ele é, de fato, altamente recalcado: não apenas por ter a Psicanálise deixado de discuti-lo — nem que fosse para provar que ele inexiste — como também por ser de extrema raridade a presença, em material analítico, das gônadas, disfarçadas ou a nu. O seguinte sonho, produzido por uma de minhas pacientes, dez anos após ter sido vítima de estupro, marca uma dessas raras presenças:
“Estou em uma festa. Um rapaz bem apessoado tenta violentar-me, ainda que na presença de outras pessoas. Eu reajo, empurrando-o e terminando por enfiá-lo, de cabeça para baixo, todo torto, no vão que existia entre uma parede e uma estante. Nesse momento, um amigo meu, agarra as pernas dele, abrindo-as e também à braguilha de suas calças. Em seguida, puxa o saco dele para fora e fala: — “Aperta o saco dele!” O que imediatamente fiz, levando mal sucedido atacante a estatelar-se no chão, rendido pela dor. Quanto a mim, saio correndo. Interessante: meu amigo era um veadinho escandaloso, meu colega de turma em uma das cadeiras da universidade. Não sei por quê, me veio à cabeça que ele também deve ter sofrido muito na mão dos homens.”
De passagem: o desenvolvimento da sessão apontou para que, empurar o atacante e enfiá-lo, "todo torto", dentro de um vão, representava a força primitiva da mulher, capaz de, pelo "vão da vagina", expulsar a criança, "toda torta", para fora de si.

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