segunda-feira

A "SEGUNDA TÓPICA" FREUDIANA

A segunda tópica freudiana, por mais que tenha tido o mérito de sugerir importantes parâmetros classificatórios para se organizar uma divisão do psiquismo em sub-sistemas, patrocinou uma vasta confusão ao aplicar esses parâmetros. Com efeito, se, por exemplo, falamos que algo, num psiquismo, pertence ao Eu, não sabemos, a partir disso, se o que está em operação é o processo primário ou o secundário, se esse algo é pré-consciente ou consciente, se é ou não reconhecido pelo sujeito como parte de si mesmo. Segue-se um esboço da reorganização que se impõe no que diz respeito a essa segunda tópica. No que diz respeito (1) à época em que aparece a instância: o Isso seria o primeiro, o Supereu o segundo, o Eu o terceiro; (2) à sensação de identidade: o indivíduo, quando entra em contato com elementos do Eu e do Supereu vive-os como sendo seus, o que não ocorre quando se defronta com elementos pertencentes ao Isso; (3) aos processos em jogo: o Supereu e o Isso operam de acordo com as leis do processo primário, o Eu de acordo com o processo secundário; (4) à possibilidade de acesso à consciência: todos os três sistemas podem ter elementos que se afloram nela; (5) quanto a provirem de “nature” ou “nurture”: a origem do Isso é constitucional, as do Eu e do Supereu tem origem nas relações do sujeito com seu entorno; (6) quanto a identificações: o Isso independe de identificações, o Eu e o Supereu dependem delas, mas a identificação típica do Eu é secundária, flexível, passível de ser alterada por considerações racionais e a do Supereu, primária, rígida, não passível de ser assim alterada; (7) quanto a função de liberar ou inibir processos mentais, todos os três sistemas têm capacidade fazê-lo, cada um a partir de seus pressupostos; (8) nenhum desses sistemas está particularmente a serviço de um tipo específico de pulsão. A parte isso, o termo Supereu é infeliz, pois generaliza uma situação mórbida, em que essa instância domina o Eu. Uma alternativa mais adequada, talvez, seria chamá-lo de Pré-eu.

Um comentário:

Raphael Pita disse...

Mestre!