INTRODUÇÃO
Esse impulso,
na verdade, nasceu do desejo de compreender como algo, a Psicanálise, que começou
tão bem, acabou tão mal. Como uma
descoberta tão brilhante sobre a natureza do mecanismo de formação dos sintomas
histéricos e, desde aí, do de um vasto leque de funções e disfunções psicológicas,
conseguiu, não muito mais do que um século depois, transformar-se numa
algaravia, quando não perniciosa, tão assombrosamente ineficaz.
A Teoria do
Caos fornece ótima explicação para isso:
ela nos assegura que uma ou duas minúsculas bobagens, aparentemente
inócuas, nas condições iniciais de nascimento de um sistema dinâmico como, sem dúvida, é a Psicanálise, podem facilmente, algumas
décadas depois, transformar-se em um amontoado de bobagens de pantagruélicas proporções.
Fiquei,
dessarte, interessado em pesquisar que “bobaginhas” seriam essas e como
conseguiram transformar, num período relativamente curto, acertos tão espetaculares, em erros, senão tão
espetaculares, pelo menos tão ridículos.
O conjunto acabado de minhas conclusões será transformado em livro, com suas devidas referências bibliográficas etc., mas, de forma sucinta, irei paulatinamente adiantando-as aqui.
***
"De qualquer forma, vou adiantar, ainda nesta Introdução, quais são, no estágio atual de minha pesquisa, os maiores acertos presentes nos albores da Psicanálise e quais foram os “pequenos deslizes” que, ad modum Teoria do Caos, transformaram-se, no correr do tempo, em imensas e insuportáveis bobagens.
1. O PRIMEIRO E MAIOR DE TODOS OS ACERTOS: “a descoberta da abordagem adequada ao tratamento dos sintomas histéricos”;
1.1. Os “pequenos deslizes”:
1.1.1. Não ser capaz de diferençar ‘método´, ‘estratégia’, ‘técnica’ e ‘tecnologia’, com inumeráveis efeitos prejudiciais, entre eles o de desqualificação da técnica hipnótica, injustamente atrelada a estratégia catártica;
1.1.2. Introduzir o conceito seminal de “memória hiperestésica” (e sua contrapartida, o de “lesão de conceito”) - e fazer que ele DESAPARECESSE POR COMPLETO da história da Psicanálise, o que levou a uma indevida falta de reconhecimento da eterna importância do conceito de trauma para a Psicanálise;
2. O SEGUNDO GRANDE ACERTO: ampliar o modelo aplicado para compreender o mecanismo psíquico dos fenômenos histéricos para abranger também a compreensão geral das psiconeuroses, a partir da introdução, pelo próprio Freud, do conceito de ‘Zwangneurose’ (= ‘neurose de coerção’), durante muito tempo denominada ‘neurose obsessivo-compulsiva’. A propósito, a natureza da outrora denominada neurose obsessivo-compulsiva fica de todo obscurecida por estar hoje jogada em um saco de gatos classificatório em que se vê denominada – juntamente, por exemplo, com algo tão diverso de uma psiconeurose como a anteriormente denominada ‘psicose maníaco-depressiva – com o rótulo obscurecedor de “transtorno”;
2.1. O “pequeno deslize”: deixar que, após a primeira edição do artigo em que se introduz o conceito de ‘Zwangneurose’, a palavra “unverträglich” (= inconciliável) se transformasse em “unerträglich” (= insuportável), patrocinando uma sutil ‘histerização’ da compreensão da neurose obsessivo-compulsiva, com evidente prejuízo para a abordagem psicoterápica dessa última;
3. TERCEIRO (E ENORME) ACERTO: introduzir, em 1899, embora sem nomeá-lo assim, o que merece a denominação de “princípio de relevância”, o qual exige representação verbo-conceitual de qualquer emoção suficientemente INTENSA, independentemente de ela ser prazerosa ou não;
3.1. Deslizes:
3.1.1. Perder a oportunidade de desenvolver o conceito de “prazer de representação” (e suas conexões com a necessidade de oxigênio), fundamental para qualquer compreensão psicanalítica do fenômeno humano;
3.1.2. Permitir que o timidamente enunciado "princípio de relevância" fosse totalmente eclipsado pelo "princípio do prazer", de forma a ficar atoleimado frente ao fato de não encontrar nenhuma ‘realização de desejo (subentenda-se, de desejo PRAZEROSO)’, nos pesadelos das neuroses traumáticas, tendo acabado por recorrer ao conceito semidelirante de Pulsão de Morte para explicá-los, conceito que, por sua vez, terminou por eclipsar o muito superior conceito ferencziano de “regressão talassal”, assim como a importância da fome como origem dos impulsos agressivos;
4. QUARTO ACERTO: usar o conceito de ‘Anlehnung’ (= apoio) para marcar a diferença entre instinto e pulsão;
4.1. Deslizes:
4.1.1. Entender ‘apoio’ como um fenômeno filogenético, mas, sim, ontogenético;
4.1.2. Definir ‘sexualidade’ como ‘prazer desapoiado’, fazendo, inclusive, uso de argumentos tão pouco psicanalíticos quanto o de que uma relação anal não tem nada a ver com fins de reprodução porque não há ovários nos intestinos; uma argumentação desse tipo cairia bem na boca de Watson ou Skinner, não de um psicanalista que deveria levar a sério a repetida fantasia infantil de que crianças nascem pelo ânus; Jung, que iria patrocinar abertamente uma dessexualização da libido, poderia, quando encontrou Freud, dizer “Eu sou você, amanhã!”;
5. QUINTO ACERTO: adotar a definição de psicológico como sinônimo de ‘intencional’, proposta por Franz Brentano, algo fundamental para sustentar teoricamente a afirmação de que comportamentos inconscientemente motivados merecem ser considerados psicológicos e, não, como se queria a seu tempo, meramente neurológicos;
5.1. Deslizes:
5.1.1. Esconder do mundo e de si mesmo, esse seu débito fundamental para com seu ex-professor de Filosofia, de modo a chegar ao fim da vida, após ter sempre operado a partir de tal conceito, dizendo que não sabia o que era o psicológico;
5.1.2. Por ter “lesionado”, em si mesmo, o conceito brentaniano de psicológico, não poder aproveitar o conceito de “lesão de conceito”, que introduzira em 1888, para mostrar à humanidade que o conceito de psicológico refere-se a uma FUNÇÃO, não ao tipo de ente – físico, químico, biológico, espiritual ou quejandos – que a exerce;
6. SEXTO ACERTO: limitar como correspondendo unicamente às psiconeuroses o campo de ação eficaz da técnica de tratamento que desenvolvera ;
6.1. Deslize: não perceber que as dissenções técnico-teóricas entre ele e outros, como Jung, Ferenczi, Rank e Klein, não eram dissenções de fundo, mas, simplesmente, alterações técnico-teóricas EXIGIDAS pela expansão daquele campo de ação a entidades mórbidas mais regredidas;
1.1. Os “pequenos deslizes”:
1.1.1. Não ser capaz de diferençar ‘método´, ‘estratégia’, ‘técnica’ e ‘tecnologia’, com inumeráveis efeitos prejudiciais, entre eles o de desqualificação da técnica hipnótica, injustamente atrelada a estratégia catártica;
1.1.2. Introduzir o conceito seminal de “memória hiperestésica” (e sua contrapartida, o de “lesão de conceito”) - e fazer que ele DESAPARECESSE POR COMPLETO da história da Psicanálise, o que levou a uma indevida falta de reconhecimento da eterna importância do conceito de trauma para a Psicanálise;
2. O SEGUNDO GRANDE ACERTO: ampliar o modelo aplicado para compreender o mecanismo psíquico dos fenômenos histéricos para abranger também a compreensão geral das psiconeuroses, a partir da introdução, pelo próprio Freud, do conceito de ‘Zwangneurose’ (= ‘neurose de coerção’), durante muito tempo denominada ‘neurose obsessivo-compulsiva’. A propósito, a natureza da outrora denominada neurose obsessivo-compulsiva fica de todo obscurecida por estar hoje jogada em um saco de gatos classificatório em que se vê denominada – juntamente, por exemplo, com algo tão diverso de uma psiconeurose como a anteriormente denominada ‘psicose maníaco-depressiva – com o rótulo obscurecedor de “transtorno”;
2.1. O “pequeno deslize”: deixar que, após a primeira edição do artigo em que se introduz o conceito de ‘Zwangneurose’, a palavra “unverträglich” (= inconciliável) se transformasse em “unerträglich” (= insuportável), patrocinando uma sutil ‘histerização’ da compreensão da neurose obsessivo-compulsiva, com evidente prejuízo para a abordagem psicoterápica dessa última;
3. TERCEIRO (E ENORME) ACERTO: introduzir, em 1899, embora sem nomeá-lo assim, o que merece a denominação de “princípio de relevância”, o qual exige representação verbo-conceitual de qualquer emoção suficientemente INTENSA, independentemente de ela ser prazerosa ou não;
3.1. Deslizes:
3.1.1. Perder a oportunidade de desenvolver o conceito de “prazer de representação” (e suas conexões com a necessidade de oxigênio), fundamental para qualquer compreensão psicanalítica do fenômeno humano;
3.1.2. Permitir que o timidamente enunciado "princípio de relevância" fosse totalmente eclipsado pelo "princípio do prazer", de forma a ficar atoleimado frente ao fato de não encontrar nenhuma ‘realização de desejo (subentenda-se, de desejo PRAZEROSO)’, nos pesadelos das neuroses traumáticas, tendo acabado por recorrer ao conceito semidelirante de Pulsão de Morte para explicá-los, conceito que, por sua vez, terminou por eclipsar o muito superior conceito ferencziano de “regressão talassal”, assim como a importância da fome como origem dos impulsos agressivos;
4. QUARTO ACERTO: usar o conceito de ‘Anlehnung’ (= apoio) para marcar a diferença entre instinto e pulsão;
4.1. Deslizes:
4.1.1. Entender ‘apoio’ como um fenômeno filogenético, mas, sim, ontogenético;
4.1.2. Definir ‘sexualidade’ como ‘prazer desapoiado’, fazendo, inclusive, uso de argumentos tão pouco psicanalíticos quanto o de que uma relação anal não tem nada a ver com fins de reprodução porque não há ovários nos intestinos; uma argumentação desse tipo cairia bem na boca de Watson ou Skinner, não de um psicanalista que deveria levar a sério a repetida fantasia infantil de que crianças nascem pelo ânus; Jung, que iria patrocinar abertamente uma dessexualização da libido, poderia, quando encontrou Freud, dizer “Eu sou você, amanhã!”;
5. QUINTO ACERTO: adotar a definição de psicológico como sinônimo de ‘intencional’, proposta por Franz Brentano, algo fundamental para sustentar teoricamente a afirmação de que comportamentos inconscientemente motivados merecem ser considerados psicológicos e, não, como se queria a seu tempo, meramente neurológicos;
5.1. Deslizes:
5.1.1. Esconder do mundo e de si mesmo, esse seu débito fundamental para com seu ex-professor de Filosofia, de modo a chegar ao fim da vida, após ter sempre operado a partir de tal conceito, dizendo que não sabia o que era o psicológico;
5.1.2. Por ter “lesionado”, em si mesmo, o conceito brentaniano de psicológico, não poder aproveitar o conceito de “lesão de conceito”, que introduzira em 1888, para mostrar à humanidade que o conceito de psicológico refere-se a uma FUNÇÃO, não ao tipo de ente – físico, químico, biológico, espiritual ou quejandos – que a exerce;
6. SEXTO ACERTO: limitar como correspondendo unicamente às psiconeuroses o campo de ação eficaz da técnica de tratamento que desenvolvera ;
6.1. Deslize: não perceber que as dissenções técnico-teóricas entre ele e outros, como Jung, Ferenczi, Rank e Klein, não eram dissenções de fundo, mas, simplesmente, alterações técnico-teóricas EXIGIDAS pela expansão daquele campo de ação a entidades mórbidas mais regredidas;
[Irei continuar esta postagem, comentando em mais detalhes cada um dos itens acima].
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Aguardando a continuação!
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