sexta-feira

O "AFFEKT" FREUDIANO

Quando eu estava me debatendo para entender o significado do maldito "Affekt" freudiano, quem me resoveu a charada foi o Prof. Carlos Paes de Barro, o maior exegeta freudiano que conheci. Explicou-me o seguinte:
"Luís César, para entender o 'Affekt' freudiano, tem-se que saber que ele, ao usar essa palavra, está se referindo a quatro conceitos: 'Affektbildung', um conceito topográfico, significando o traço mnêmico deixado pela experiência afetiva; 'Affektgrösse', um conceito econômico, referido à quantidade de energia investida sobre um determinado 'Affektbildung'; o 'Affektbetrag', um conceito dinâmico, indicando uma relação entre estrutura e energia e que, ultrapassando certo limiar, gera o 'Affektzustand', um conceito clínico, que se refere à experiência do afeto. Acontece que ele, via de regra, emprega apenas 'Affekt', sem os seus devidos complementos, e o leitor tem que inferir, pelo contexto, se se trata do "[Affekt]Bildung", do "[Affekt]Grösse", do "[Affekt]Betrag" ou do "[Affekt]Zustand" ".
Pois é. Acontece, concluo eu, que ele mesmo acabou sendo vítima de sua taquigrafia conceitual. Em "O Inconsciente", esquecido de que, segundo a sofisticada montagem metapsicológica traçada quinze anos antes, no "Projeto", um "Affektbildung" podiam ficar quiescente, sem suficiente investimento de "Affektgrösse" que o trouxesse à consciência, cometeu o mau - mais do que mau, péssimo - engano de considerar incabível supor a existência de "emoções, sentimentos e afetos inconscientes", reduzindo a freqüente menção que a eles faz a Psicanálise a uma mera "façon de parler"!
Pois é. E ficou para seus herdeiros recuperar os "Bildungen", "Zustände" etc. que cabe acoplar a cada "Affekt" com que se defrontam ao ler o grande mestre...

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