terça-feira

A "SIMPLICIDADE" LACANIANA

Quando fiz críticas ao rococó linguístico de Lacan, alguém me respondeu dizendo que esse autor era "complexamente simples". Tenho uns reparos a fazer.

Lacan não é "simples", é pobre; e não é "complexo", é enfeitado[1].  O que disse de relevante - numa forma enrolada e frouxa - já havia sido enunciado de forma clara e contundente e o que disse de original é pouco relevante ou cabalmente estúpido (vide sua analogia entre "pênis ereto" e "raiz quadrada de menos um").  Ele e seus seguidores tentam esconder esse pauperismo intelectual com uma pirotecnia claramente obscura, precisamente vaga e rigorosamente frouxaCompreende-se que se tenham sentido de todo afrontados com a publicação de “As Imposturas Intelectuais”, em que Sokal e Bricmond denunciam sua malversação desonesta de conceitos físicos e matemáticos para tentar emprestar aura de cientificidade a fatigadas platitudes e/ou a rematadas sandices que alfineta sobre o acontecer humano.  Um  desses afrontados pretendeu terçar armas com tal crítica, dizendo que ela equivalia a corrigir vírgulas em um poema!  Ocorre que, ao publicar seu livro de "poemas", o autor, por auto-engano ou má-fé, vendeu-o às criancinhas como se fora compêndio de gramática...  

Aliás, depois de Voltaire, os franceses - tirando Tocqueville e mais dois ou três - só têm sido competentes – não que isso seja desprezível, mas não se devem confundir competências – em produzir moda, vinhos, culinária e perfumaria, não em produzir idéias. Sartre até pensou que era capaz de fazer isso – e alguns acreditaram! – mas foi darwinianamente eliminado do panorama filosófico da mesma forma que, da estante das Ciências Humanas, certamente o serão Jacques Lacan e outros perfumistas como Gilles Deleuze, Félix Guattari, Kristeva, Latour et caterva. 

(Pesquisas demonstram que as empresas cujos relatórios para os acionistas são vasados em linguagem obscura são aquelas que mais provavelmente irão à falência. Tenho pouca dúvida sobre que, na História da Psicanálise, a lacaniana terá igual destino).

A propósito, Freud mantinha sobre sua mesa a seguinte estrofe de Boileau:

"Ce que l'on conçoit bien
S'énonce clairement,
Et les mots pour le dire
Arrivent aisément."

[O que se concebe bem
Se enuncia claramente,
E as palavras para dizê-lo
Chegam facilmente.]

Se, como disse Lacan, ele foi o único que entendeu Freud, decidiu dedicar sua vida a cuidar de que ninguém mais o entendesse.
_____________________________________________
[1]  Isso me faz recordar de Herbert Read, fino crítico de arte inglês, afirmando que, se uma mensagem já alcançou sua expressão maior, os que se alimentam dela e não conseguem engendrar outra, tombam no rococó para, com seus enfeites, tentar aparentar que ainda têm algo de fundamental a dizer, quando todo o essencial já foi dito.

Nenhum comentário: